Por que deixei a FSSPX
Pe. Marshall Roberts
8 de dezembro de 1997
Imaculada Conceição da Virgem Maria
Caros amigos em Cristo,
Embora já tenha se passado pouco mais de um mês desde a
última vez que estive entre vocês, não tenho deixado de pensar nem de rezar por
vocês. Muitos boatos circularam intensamente nas últimas semanas, e creio que
agora seja necessário abordar alguns deles. Além dos boatos, sei que muitos de
vocês têm perguntas sobre as decisões que tomei desde que saí, e tentarei
também respondê-las. Creio poder contar com a boa memória que vocês têm do
tempo que passei entre vocês para ignorar as falsidades mais gritantes. Nesta
carta, gostaria apenas de relembrar alguns dos temas que vocês mesmos já
ouviram em meus sermões ou aulas de catecismo. Com esta carta, espero ajudá-los
a ver algumas das dificuldades sérias que me forçaram a deixar a Fraternidade
Sacerdotal São Pio X.
Primeiro, desmentirei alguns dos falsos motivos que têm sido
divulgados como causa da minha saída. Depois, falarei dos dois fatores
principais que, de fato, me obrigaram a deixar a Fraternidade.
Quanto aos boatos falsos, certamente não saí por
estar descontente com as capelas que estavam sob meus cuidados. Embora sempre
existam problemas quando se lida com pessoas de ideias diferentes sobre como
fazer as coisas, eu via um grande potencial de crescimento espiritual, e achava
que quaisquer dificuldades poderiam, com o tempo, ser superadas. Também não
saí porque tivesse alguma agenda secreta. Até o fim de semana anterior à minha
saída, eu não previa uma partida tão repentina. Não saí da
Fraternidade por ter algum ressentimento contra seus líderes — embora estivesse
ficando alarmado com o crescimento de um espírito cada vez mais sectário entre
alguns deles. Por fim, não saí apenas por causa da minha amizade com os
padres Fullerton e Urrutigoity. É verdade que o episódio no seminário me abriu
os olhos para muitos males. Também é verdade que vi as condutas mais
inescrupulosas serem aplaudidas e todo tipo de mentira ser aprovada desde o
incidente ocorrido no seminário em maio. Mas nenhuma dessas coisas é a verdadeira
razão da minha saída. De fato, mesmo após esses episódios, eu ainda planejava
permanecer dentro da Fraternidade.
Dito isso, a pergunta naturalmente surge: então por que
saí?
Deixei a Fraternidade Sacerdotal São Pio X por causa da
minha devoção à Igreja de Roma. Sempre enfatizei em meus sermões a
necessidade de sermos romanos, de estarmos unidos à Sé de Pedro. Disse a todos
vocês que ser católico é ser romano. Não me entendam mal. Não estou
dizendo que ser católico significa abraçar o modernismo e todas as mudanças
liberais — continuo a me opor a essas coisas tanto quanto antes. Por outro
lado, romper todo contato com Roma leva ao erro oposto — um erro que
acabaria, eventualmente, no protestantismo.
Você pode objetar que eu já sabia que a Fraternidade era
polêmica em seus ataques contra o modernismo, e que o modernismo não
desapareceu. Isso é verdade. Concordo que se pode objetar contra abusos, mas
isso ainda deve se manter dentro de certos limites. Deve-se sempre
conservar um espírito de respeito filial para com as autoridades
envolvidas. Protestar não é um bem absoluto; exige que se continue a
respeitar o ofício daqueles envolvidos e a mirar no bem comum da Igreja. Não
se pode protestar e, ao mesmo tempo, cortar-se da Sé Apostólica, fingindo que
ainda se é católico. Um católico sempre se lembra de que o Papa é o Santo
Padre, o pai de todos os que são filhos da Igreja. Nunca se pode renegar
o próprio pai. Roma continua sendo a autoridade suprema. Mas temo que a
Fraternidade esteja deixando de ser romana no verdadeiro sentido da palavra.
Concretamente, dois fatores me forçaram a deixar a
Fraternidade: um da parte da própria Fraternidade, e outro da parte de Roma
— ambos interligados.
Vocês todos sabem das novas normas da Fraternidade
que foram publicadas este ano. Sabem das declarações de nulidade matrimonial
concedidas pela Fraternidade, algo que mostra que a Fraternidade entrou em
terreno perigoso. Eu fui ensinado no seminário que a Fraternidade não
poderia conceder válidas essas nulidades. No entanto, isso agora é política
oficial. Depois, há a comissão canônica com suas “dispensas”, algumas
das quais somente Roma pode conceder. Rejeito — e sempre rejeitarei —
qualquer pretensão da Fraternidade de “fazer as vezes do papa”. Tudo
isso é extremamente não tradicional e não católico.
Devo lembrar-lhes que nunca, na história da Igreja,
nenhum grupo de padres que se diga católico tomou para si a autoridade de
conceder nulidades matrimoniais. Somente Roma ou um bispo diocesano pode
fazê-lo validamente. Receber tal nulidade inválida e depois tentar casar-se
novamente certamente constituiria um sacrilégio.
Quanto às “dispensas”, a Igreja as exige, em muitos
casos, para a validade do matrimônio. Algumas dessas sempre foram
concedidas exclusivamente por Roma. São reservadas a Roma por virtude da
autoridade do Papa. E, no entanto, a Fraternidade não hesita em afirmar
que pode soltar o que Pedro atou, o que é completamente contrário às
palavras de Nosso Senhor: “Tudo o que ligares na terra será ligado também no
Céu...”
A Fraternidade finge que se trata de um caso de
necessidade, mas isso não é verdade, a menos que se diga que o Papa é
incapaz de exercer sua autoridade para o bem da Igreja — o que seria o
mesmo que dizer que ele não é realmente o Papa. Isso é instituir uma
outra autoridade igual à de Pedro dentro da Igreja.
A segunda razão que me levou a sair foi por causa de dois
documentos recentes vindos de Roma. Esses documentos reafirmam o que o Papa
ensinou em seu Motu Proprio “Ecclesia Dei Afflicta”, de 1988, ou seja,
que os quatro bispos consagrados por Dom Marcel Lefebvre foram excomungados
pelo crime de cisma. Contudo, vão além e afirmam que os padres e
diáconos da Fraternidade também incorrem nessa excomunhão. Apesar das
tentativas de Dom Fellay no mês passado de minar a autenticidade desses
documentos, eu fiz o que ele deveria ter feito — e o que qualquer
pessoa de bom senso faria: perguntei diretamente a Roma pela verificação
desses documentos. Eles são reais. E, ao contrário do que afirmam
Dom Fellay e o Padre Scott, esses documentos sim apresentam uma
razão pela qual as excomunhões são válidas.
Não estou dizendo que Dom Fellay ou o Padre Scott estão
tentando enganar os fiéis. Em vez disso, a Fraternidade está se
tornando autocentrada em seu próprio sistema de argumentação, a ponto de não
conseguir fazer outra coisa senão repetir eternamente os mesmos argumentos.
Eles já não conseguem compreender ou ouvir os argumentos do outro lado.
Mas, apesar das alegações dos líderes da Fraternidade, Roma apresenta uma
razão — e é uma razão teológica. Consagrar bispos contra a vontade do
Papa nunca pode ser justificado, pois tal ação ataca a própria fonte da
unidade da Igreja. Nós, da Fraternidade São Pio X, sempre argumentamos um
caso de necessidade, mas Roma respondeu a esse argumento: tal
caso não poderia existir, pois implicaria que há uma deficiência na
providência de Deus sobre a Igreja. Para “salvar” a Igreja, seria
necessário contornar o papado, que é a fonte de toda a unidade da Igreja.
A Teologia Moral é muito clara: quando se está em
dúvida sobre a própria situação dentro da Igreja Católica, deve-se sair da
situação duvidosa. Desde que saí, tive mais tempo para ler os argumentos de
Roma — e eles são muito sólidos. Argumentam com base na Tradição
Católica, nos Papas e nos Padres da Igreja. Talvez seja bom
apresentar a vocês uma dessas provas que Roma pode usar. O Papa Pio XII,
em sua carta encíclica Ad Apostolorum Principis, afirma:
“Nenhuma autoridade, a não ser a do Sumo Pontífice, nenhuma
assembleia de padres ou leigos, pode assumir para si o direito de nomear
bispos. Ninguém pode legitimamente conferir a consagração episcopal sem a
certeza de um mandato papal. Uma consagração conferida dessa forma é contra a
lei humana e divina, constituindo um ataque gravíssimo contra a própria unidade
da Igreja, e punida com excomunhão.”
Dito isto, permita-me abordar outra das objeções feitas à
minha saída. Alguns me acusaram de ser "intelectual demais" e, por
isso, enganado pelo demônio. Dizem que, se eu não estivesse tão preocupado
com teologia, jamais teria deixado o seio da Fraternidade. Alegam que uma fé
simples é mais agradável a Deus. É verdade que uma fé simples é
agradável a Deus, mas essa mesma fé simples, fortalecida pelo catecismo,
pode fornecer as razões pelas quais fui forçado a deixar a Fraternidade. Voltemos
aos nossos catecismos. Tenho certeza de que todos concordaríamos que, se
alguém tentasse nos ensinar uma doutrina contrária àquela que a Igreja sempre
ensinou em seus catecismos, deveríamos estar em alerta.
Este tempo de crise colocou todos nós em uma posição
muito delicada. Devido aos muitos perigos inerentes a uma posição de
resistência aos desejos de tantos bispos, um novo espírito começou a se
fazer sentir no pensamento de muitos apoiadores da Fraternidade, e, de
fato, na própria liderança da Fraternidade. A posição original da grande
maioria dos católicos tradicionais era que, devido ao desastre que se seguiu
ao Concílio, era necessário tomar uma posição contra os vários abusos
que estavam sendo impostos a todos. Isso era bom e necessário. Mas desde
então, uma nova atitude de distanciamento entrou em cena. De resistir
aos abusos da autoridade, muitos passaram a uma atitude de hostilidade ativa
contra a própria autoridade. A essa hostilidade se junta um desejo —
talvez até inconsciente — de permanecer totalmente separado tanto da hierarquia
quanto da comunidade dos fiéis. É um perigo sutil, mas tanto mais fatal
se não for ativamente combatido.
Tudo isso resultou em uma nova visão da natureza da
Igreja Católica. A Fraternidade está criando seu próprio tipo de
hierarquia e comissões, que podem ignorar completamente a hierarquia
legítima da Igreja Católica. Vejamos agora o que o catecismo ensina sobre a
Igreja instituída por Cristo. O que é a Igreja, afinal? O Catecismo diz:
“A Igreja é a congregação de todos os que professam a fé de Cristo,
participam dos mesmos sacramentos e são governados por seus pastores legítimos
sob um único Chefe visível.” Não basta ter a Fé: é necessário estar
sujeito aos pastores legítimos. Quem são eles? O Catecismo continua: “Por
‘pastores legítimos’ entendemos aqueles na Igreja que foram nomeados por
autoridade legítima, e que, portanto, têm o direito de nos governar. Os
pastores legítimos na Igreja são: todo sacerdote em sua própria paróquia, todo
bispo em sua própria diocese e o Papa em toda a Igreja.” Se alguém não
está sujeito aos pastores legítimos, não está na Igreja. Obviamente, essa
sujeição não significa obedecer ordens pecaminosas. Contudo, requer
obediência em todas as coisas, exceto no pecado.
Não há dúvida de que uma pessoa não pode simplesmente
ignorar seu pastor legítimo como se ele não existisse. O Catecismo de São
Pio X declara o que tal pessoa seria: um cismático. O que é um
cismático? “Cismáticos são pessoas batizadas que, de forma obstinada, se
recusam a obedecer aos pastores legítimos, e, por isso, estão separadas da
Igreja, mesmo que não neguem nenhuma verdade da Fé.” Há então um problema
ao se falar em uma “Igreja do novus ordo”, pois ela contém todos
aqueles que possuem autoridade legítima: o Papa, os bispos e os párocos.
Gostaria de lembrar que a verdadeira Igreja possui outras
características, por exemplo, a indefectibilidade. O Catecismo diz:
“Por indefectibilidade da Igreja, entende-se que a Igreja,
como Cristo a fundou, durará até o fim dos tempos.”
Sim, apesar da crise, a Igreja como Cristo a fundou
jamais pode falhar. A existência e a preservação da Igreja não dependem
da Fraternidade São Pio X. Embora a Fraternidade queira que você pense que
ela é indispensável e que as sagrações episcopais feitas por Dom Lefebvre foram
necessárias para dar continuidade à Igreja, isso não é verdade.
Em resposta, cito o próprio Dom Lefebvre, em seu
livro Carta Aberta aos Católicos Perplexos:
“Disseram também que, depois de mim, minha obra desaparecerá
porque não haverá bispo para me substituir. Estou certo do contrário; não tenho
preocupações nesse sentido. Posso morrer amanhã, mas o bom Deus responde a
todos os problemas. Encontrar-se-ão bispos suficientes no mundo para ordenar
nossos seminaristas: disso estou certo.”
Mais importante ainda, sabemos que Cristo fundou Sua
Igreja sobre Pedro, e estabeleceu uma hierarquia composta pelo Papa e
pelos bispos diocesanos para governar a Igreja. Isso não pode mudar. Contudo,
a Fraternidade quer que você pense que ela é a única vela na escuridão, a única
preservadora da Tradição — seus líderes sendo tudo o que resta do verdadeiro
catolicismo.
Você pode então me perguntar: “Se isso é verdade, por que
você não percebeu isso antes?” Eu, de fato, já havia lido o catecismo
antes, obviamente, então por que a mudança?
Acontece que eu já tinha lido o catecismo, mas não me
haviam ensinado os textos do Magistério e dos Padres da Igreja que eram
necessários para uma verdadeira compreensão desse problema. Eu ouvia os
argumentos da Fraternidade sem questionar a veracidade de suas afirmações.
Eu sabia que havia uma crise na Igreja e que era necessário lutar pela
Tradição. Mas eu não questionei os meios até que descobri que Roma
tinha a Tradição de seu lado no debate sobre a sagração de bispos.
Fui advertido de que a hierarquia está irremediavelmente
modernista, empenhada apenas na destruição da Igreja, e que estaria
comprometendo a Fé ao ser aprovado por bispos “novus ordo” e pela “Igreja do
novus ordo”. É hora de fazer algumas perguntas pertinentes antes de
prosseguir.
O que queremos dizer com “novus ordo”? O termo novus
ordo refere-se a uma forma do rito da Missa. É o novo rito da Missa,
em contraste com o rito codificado em 1570. Como eu não celebro esse novo
rito, isso não pode se aplicar a mim, nem aos outros padres aprovados por
Roma que celebram somente o rito tradicional da Missa.
Esse é um grande problema entre os tradicionalistas: o
uso equivocado da linguagem. O que queremos dizer com “bispos novus ordo”?
São apenas os que celebram o rito de 1969? Ou estamos dizendo que esse termo
se aplica a toda a hierarquia — uma hierarquia que já não seria mais católica?
Se dizemos que a hierarquia novus ordo já não é católica, onde está
então a hierarquia visível fundada por Cristo sobre a rocha de Pedro: “Tu és
Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja?”
Se considerarmos a hierarquia novus ordo como sendo toda
a hierarquia católica atual, então devemos estar em comunhão com ela.
O mesmo se aplica ao termo “conciliar”. Um bispo
conciliar é um bispo católico? O próprio Dom Lefebvre assinou em 1988 uma declaração
em que aceitava o Concílio Vaticano II à luz da Tradição. Ele então era um
bispo conciliar? O Papa seria apenas o chefe da Igreja conciliar? Se a
Igreja conciliar for realmente diferente da Igreja Católica, quem é o chefe da
Igreja Católica? Onde estão os seus bispos?
Esses termos novus ordo e conciliar
originalmente serviam para indicar certas ações de membros da hierarquia
católica que eram liberais ou modernistas. Agora, no entanto, a
Fraternidade os utiliza de forma indiscriminada para qualquer um que esteja
abertamente em comunhão com Roma.
Não deixe que o medo o leve a abandonar a própria fé que
você está tentando conservar. Você ousaria afirmar que a hierarquia como
Cristo a estabeleceu já não existe, que a Igreja visível provou ser
totalmente defectível?
Você está preocupado que eu esteja em perigo de perder a
Fé por ter deixado a Fraternidade e ter sido aprovado pelas autoridades da
Igreja atual. Mas a submissão visível a elas é requisito para a salvação.
São vocês, meus caros amigos, que devem se perguntar se a Fraternidade está
submetida ao Papa e se faz parte da Igreja.
A submissão a Roma faz parte da fé católica. Dom
Fellay é bispo da Igreja visível, ou seja, da Igreja Católica que, por
definição, é um corpo visível? Se ele nada tem a ver com a Igreja
visível, então ele simplesmente não é católico, muito menos um
bispo católico.
A Fraternidade tem de responder a alguma autoridade
legítima por suas ações? Se não, então ela constituiu uma igreja
paralela. A Fraternidade orgulhosamente afirma não fazer parte da
“Igreja do novus ordo”. Logo, ela não faz parte da Igreja visível
fundada por Cristo, governada pelo Papa e pelos bispos.
Eu sei onde está a verdadeira Igreja. Ela está onde sempre
esteve: com aqueles que estão em comunhão visível com o Vigário de
Cristo. O Papa declarou os bispos da Fraternidade excomungados e
cismáticos. Segundo a Tradição, alguém só é reconhecido como católico se
for recebido pelo Papa em comunhão eclesiástica — e não o contrário. Não
há comunhão visível entre os bispos da Fraternidade e o Papa. Os
documentos recentes de Roma apenas confirmaram aquilo que qualquer criança que
aprendeu seu catecismo já poderia nos ter dito.
Cuidado para não aprender uma nova fé que não nos foi
transmitida pela Tradição. Apresento-lhes o espectro de Lutero como
exemplo para todos nós. Ele redefiniu a Igreja — e o fez em termos assustadoramente
semelhantes aos que são agora usados pela Fraternidade e por alguns de seus
fiéis. Ele dizia que a Igreja era:
“A congregação dos fiéis onde o verdadeiro evangelho é
pregado e os verdadeiros sacramentos são administrados.”
Isso soa familiar? Não temos escutado que, por o fato
de a Fraternidade possuir a verdadeira Fé e os verdadeiros sacramentos, isso prova
que ela é católica? E que, se conservarmos essas duas coisas, isso basta?
Lutero tinha o mesmo problema básico que a Fraternidade
agora tem: querer provar que se é católico (sim, Lutero se dizia
católico até o dia de sua morte) sem qualquer referência a uma
hierarquia visível, à qual a união visível é necessária. Lutero
dizia que excomunhões injustas não tinham valor algum.
Essa foi a mesma posição dos hereges jansenistas, que
diziam:
“O medo de uma excomunhão injusta jamais deve nos impedir de
cumprir nosso dever; nunca estamos separados da Igreja, mesmo quando, pela
maldade dos homens, parecemos ser expulsos dela, desde que estejamos unidos a
Deus, a Jesus Cristo e à própria Igreja pela caridade.”
A Igreja condenou essa opinião em 1713. Ela não
pode ser sustentada por católicos.
Não estou dizendo que alguns homens da Igreja não tenham
feito coisas horríveis nos últimos trinta anos. Não condeno a Fraternidade
por querer preservar a Tradição; é dever de todo católico fazer isso. Exorto-vos
a manter firme a Fé revelada por Deus. Não abandonem o combate pela Fé. No
entanto, nem você nem eu jamais devemos renunciar a uma parte da Fé para
preservar outra parte.
A Fraternidade sempre insistiu corretamente que a Fé é um
todo. Nenhuma parte pode ser sacrificada nesta luta pela Tradição. É por
isso que devemos reconhecer que a Fraternidade realizou muitas boas obras no
passado. Porém, agora que ela está modificando a Fé para justificar sua
separação da hierarquia, não posso permanecer nela.
Que as simples palavras do catecismo vos ensinem sobre a
verdadeira Igreja. Não sejam guiados pelo medo, mas sim pela confiança em
Cristo, que prometeu que as portas do Inferno jamais prevaleceriam contra
Sua Igreja, a Igreja em comunhão hierárquica com Roma. Você não
precisa confiar nos modernistas. Confie nas palavras de Cristo e no catecismo.
Suas promessas de preservar a hierarquia nunca falharão.
Ainda que muitos bispos ou países tenham apostatado no
passado — como na Alemanha, na Grécia ou na Grã-Bretanha —, a hierarquia
como um todo jamais poderá fazê-lo. Sua Igreja visível, edificada sobre
Pedro, é protegida por Deus e, por isso, jamais será vencida.
Se alguém vos pregar que a Igreja está em qualquer outro
lugar que não seja no Papa e naqueles visivelmente unidos a ele, sabei que é um
herege, e não o acrediteis. Ele é um daqueles de quem Cristo nos adverte,
que dizem que Ele se encontra no deserto ou em algum outro lugar. A Igreja,
que é o Corpo Místico de Cristo, jamais será encontrada senão onde Ele disse
que estaria: reunida em torno de Pedro.
Que Deus vos abençoe com Sua graça e todas as bênçãos, e
que Nossa Senhora vos proteja. Nunca esquecerei todas as bondades que me
mostraram enquanto estive convosco. Estareis sempre em minhas orações.
Vosso em Cristo e Nossa Senhora,
Padre Marshall Roberts

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